Enfermagem e saúde mental

O Dia Mundial da Saúde Mental, estabelecido aos dez dias do mês de outubro, foi estabelecido pela Federação Mundial de Saúde Mental (WFMH) e objetiva alertar sobre os cuidados e atenção relacionados à saúde mental dos indivíduos. Dessa forma, a sensibilização da sociedade nesse aspecto diz respeito ao direito dos indivíduos ao bem-estar mental, bem como ao cuidado e acesso a redes de atenção em situações de desequilíbrio ou sofrimento.

Marcadores históricos têm contribuído para uma discussão cada vez mais intensa da temática de saúde mental, sobretudo a pandemia de COVID-19 e o isolamento do convívio social, o advento das redes sociais eletrônicas e a alteração das habilidades sociais e regras de convivência estabelecidas nas novas gerações.

A pandemia de COVID-19, transcorrida mundialmente entre os anos de 2020 e 2022, resultou em impactos de saúde (mortes e agravos agudos decorrentes da infecção, sintomas de ansiedade, estresse, depressão e uso de substâncias como automedicação) e socioeconômicos (alteração nas dinâmicas sociais, maior isolamento, uso de redes sociais, perda de empregos e mudanças nas relações de trabalho).

Além da pandemia, outras mudanças sociais referidas às novas gerações de aparelhos eletrônicos e usabilidade dos aplicativos modificou as relações interpessoais, principalmente pelo aumento da velocidade e do volume de informações e contato virtual entre pessoas, o que contribuiu para ansiedade relacionada a percepção da necessidade de acesso a informações constantemente e ao sofrimento relacionado a objetivos e espelhamento de realidades apresentadas e compartilhadas nas redes sociais eletrônicas.

Nesse meio invasivo e intenso de mudanças na dinâmica da sociedade, o mundo do trabalho já estava num processo de progressão das relações trabalhistas, aonde observamos a flexibilização de vínculos empregado-empregador em diversos países e culturas, ou seja, apresentando um fluxo de evolução semelhante e unidirecional ao redor do globo. Os sistemas de saúde, ao mesmo passo, enfrentam dificuldades financeiras e processuais para a implementação de um cuidado de qualidade, com uma instabilidade que gera interesse econômico e especulação, transformando as comunidades e os usuários de sistema de saúde em “mercados consumidores”. No Brasil, por exemplo, a maximização de alcance do SUS transcorre conjunta e paradoxalmente dos interesses mercantis de uma das maiores populações do mundo.

O mercado de trabalho que as enfermeiras estão inseridas é exatamente este – mudança da dinâmica social e relação interpessoal, novo capítulo das relações trabalhistas com flexibilização de direitos e necessidade de ajustes no cuidado à saúde. As enfermeiras, nesta realidade, sofrem com as características de trabalho as quais estão sujeitos, sendo principalmente sobrecarga de trabalho, síndrome de Burnout, exposição aos riscos ocupacionais e violências e a precarização da atividade do enfermeiro nos sistemas de saúde. Nesse sentido, essas trabalhadoras também enfrentam uma crise identitária, na qual pouquíssimos processos de trabalho são únicos e exclusivos dos enfermeiros, tornando necessário o apoio, na realidade brasileira, de uma carreira protocolada e validade no SUS.

A reflexão sobre o papel da enfermeira no cuidado à saúde, a valorização e referência pela qualidade de cuidado implementada considerando o grau de satisfação do profissional enfermeiro e a proteção e atenção da individualidade e bem-estar das pessoas enfermeiras é, portanto, um dos focos que deve ter análise e validação por parte da sociedade, das instituições, dos gestores e, sobretudo, das pessoas.

Que essa data possa fazer-nos refletir sobre o nosso papel para que, com força, lutemos pelas mudanças do mundo do trabalho que favoreçam a enfermagem e reflitam no cuidado de qualidade prestado à população.