Karen Santos: luta contra quem sufoca e desrespeita o povo

Karen Santos é a vereadora mais votada de Porto Alegre, em 2020, pelo PSOL. Integrante do Coletivo Alicerce, é professora de educação física, mulher negra, jovem e trabalhadora. Luta ao lado do povo que batalha contra aqueles que sufocam e desrespeitam. Karen é a terceira entrevistada da série de reportagens que o SERGS está fazendo com os novos vereadores negros de Porto Alegre, no mês de novembro, seus projetos para a cidade e para a saúde da população.

SERGS – Como você avalia essa vitória?

Karen – Foi uma vitória coletiva, resultado de um trabalho intenso que envolveu muitas mãos, mentes e corações. A Campanha do Povo que Batalha não começou no período eleitoral e também não encerrou no dia 15 de novembro. Há quatro anos, nós do Coletivo Alicerce estamos semanalmente nas ruas, terminais de ônibus e comunidades panfletando, apresentando a nossa política e as nossas ideias, ouvindo as demandas da população e conversando sobre a necessidade da luta e da organização das pessoas para mudar nossa cidade e nosso país. Durante os quase dois anos em que estivemos ocupando uma cadeira na Câmara de Vereadores (a partir de 2019, quando assumi no lugar da companheira Fernanda Melchionna), nos dedicamos muito a seguir nas ruas, levar o nosso mandato para onde está o povo, no centro, nas periferias, nos locais de trabalho, estudo e moradia. Então a vitória na eleição é parte de um processo de construção permanente. E também diz muito sobre o que a população está sentindo e pensando. As pessoas estão cansadas de carregar o peso da crise nas costas, estão cansadas de ver os mesmos políticos de sempre que só aparecem em época de eleição, cheios de promessas e depois, nos quatro anos que seguem, somem e, pior, aprovam projetos que retiram ainda mais direitos e dificultam ainda mais a vida da população.

SERGS – O que representa para uma mulher negra, ativista dos direitos sociais, ocupar essa vaga na Câmara?

Karen – Fico feliz com o resultado. Nós conquistamos essa vaga pautando um debate importante sobre a crise e os problemas que existem em Porto Alegre. Nós vivemos em uma das capitais mais segregadas do país, temos aqui bairros com padrão de vida europeu e, ao mesmo tempo, periferias onde falta água, onde ônibus não chega, onde o esgoto corre a céu aberto, onde as pessoas não tem o mínimo para viver com dignidade, para colocar comida na mesa. É o povo preto que mais sofre com o desemprego, com os empregos precários, com os piores salários, com a violência e o racismo cotidianos. E nós fomos para as ruas justamente para dialogar com essas pessoas, levar a ideia de que não se pode desacreditar da política, de que o povo precisa ser protagonista na luta por direitos e por mudanças. Então, a conquista dessa vaga na Câmara nos mostra que há espaço para essa política e, mais do que isso, que ela é necessária e urgente.

SERGS – Na Semana do Dia da Consciência Negra, qual recado você considera importante passar para a sociedade?

Karen – O 20 de Novembro foi marcado por um crime brutal, fruto do racismo que estrutura o nosso país. O assassinato de João Alberto Silveira Freitas, no estacionamento do Carrefour, não foi um caso isolado e escancara que existe no Brasil um verdadeiro genocídio do povo negro. As pessoas negras são 75% das vítimas de homicídio em nosso país; a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado. Se há um recado, é de que Consciência Negra é ação, que precisamos ser sujeitos da nossa história, organizar nossas comunidades, denunciar as diferentes formas de violência e lutar por nossos direitos. Ninguém fará isso por nós! As mudanças profundas que precisam ocorrer na sociedade precisam ser construídas pelas nossas mãos, a partir da perspectiva de negras e negros, mulheres, LGBTQI+, de quem vive do suor do próprio trabalho, da juventude que anseia pelo direito ao futuro.

SERGS – E falando sobre saúde, quais são seus projetos e bandeiras?

Karen – A saúde é uma questão central em nosso país. Nosso compromisso é com a luta em defesa do SUS universal, público e estatal, com investimentos e valorização das/os profissionais e condições dignas de trabalho. Seguiremos na batalha com as/os trabalhadoras/es do IMESF contra as demissões e pela manutenção deste que é um serviço essencial para a população, que cumpre um papel fundamental no atendimento das famílias e das comunidades de Porto Alegre. Outra questão importante é a luta pela reabertura das Unidades de Saúde que essa gestão liberal e elitista de Marchezan fechou nas periferias. Além disso, estamos ainda em meio a uma grave pandemia, e segue extremamente necessária a luta por ampla testagem para a população, sobretudo para profissionais da saúde e trabalhadoras/es de serviços essenciais que estão na linha de frente, a luta contra a retomada desorganizada de serviços não essenciais e a garantia de um plano de imunização quando houver vacina. Vivemos uma das maiores crises da história do nosso país, para garantir saúde é necessário garantir renda e trabalho para o povo trabalhador.

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