RAMI: análise preliminar preocupa pelos retrocessos

Por Virgínia Leismann Moretto, enfermeira, professora da UFRGS e presidenta da ABENFO-RS

 

O Programa chamado Rede de Atenção Materno-infantil-RAMI foi publicado dia 04 de abril de 2022 pelo Ministério da Saúde (MS) do Brasil e altera e incorpora a Rede Cegonha. Infelizmente é uma publicação autocrática e unilateral do Ministério da Saúde. Analisando a publicação nos componentes que se referem a gestação, parto e nascimento, observei uma escrita confusa e sutil, propositalmente como uma nítida forma de legitimar um modelo de atenção ao parto e nascimento excluindo a enfermeira obstetra.

O que chama muito atenção no “modelo” proposto pelo RAMI é voltar a caracterizar a gestação, parto e nascimento como um evento extremamente perigoso, portanto nesta lógica deve-se manter o nascimento dentro de hospitais. Este modelo aumenta as chances de cesarianas desnecessárias e consequentemente todos os seus riscos para mãe e o bebê. O maior exemplo disto é o modelo de atenção ao nascimento no estado do Rio Grande do Sul, onde TODAS as maternidades estão locadas dentro de hospitais gerais, e a lógica da atenção segue o mesmo caminho que uma emergência de COVID, UTIs gerais, e unidades de adultos… o índice de cesarianas no RS está acima de 60%.

O modelo apresentado nesta portaria se refere apenas ao PARTO HOSPITALAR, e não inclui mais os CENTROS DE PARTOS NORMAIS na atenção obstétrica para o Brasil. É neste sentido que me refiro ao texto da Portaria ser confuso e sutil, pois extinguir os Centros de Parto Normal é dissipar com a ENFERMEIRA OBSTETRA nesta atenção.

A sutileza do texto revela que faz parte deixar a escrita confusa, mas ao ler todo o Programa desvela-se a proposta de parto e nascimento HOSPITALAR E MEDICALIZADO, ou seja, tudo ao contrário que vem sendo debatido, estudado e pesquisado na área, que é tornar o nascimento uma experiência positiva para todas as mulheres. Uma pena ver mais uma vez o MS negar a ciência e ratificar modelos de atenção ao parto e nascimento que vão DE encontro às evidências científicas.

TRISTE, LAMENTÁVEL E MAIS UMA VEZ ATINGE DIRETAMENTE A SAÚDE DAS MULHERES BRASILEIRAS, PRINCIPALMENTE AS MAIS VULNERÁVEIS.

 

WHO recommendations: intrapartum care for a positive childbirth experience. Geneva: World Health Organization; 2018.

https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/nursing-and-midwifery        https://www.cochranelibrary.com/cdsr/doi/10.1002/14651858.CD004667.pub5/full

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