SERGS divulga dados de pesquisa CNTSS/CUT sobre profissionais na linha de frente da Covid

 

A CNTSS/CUT – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social é uma das entidades parceiras da Internacional do Serviço Público (ISP)  na elaboração e condução da campanha “Trabalhadoras e Trabalhadores Protegidos Salvam Vidas”, que teve como objetivo principal descrever as condições de trabalho precário e suas consequências na saúde psíquica dos trabalhadores da saúde que atuam no enfrentamento da Covid-19 e demais categorias consideras essenciais. Os dados colhidos se materializaram em um relatório analítico e uma Carta Aberta sob o título “Proteger para salvar – o futuro do trabalho na saúde e serviços essenciais” apresentados no último dia 26, em seminário.

A campanha aconteceu durante o período de 31 de março a 15 de junho e foi a versão nacional do projeto mundial da ISP. A iniciativa brasileira teve como um diferencial a incorporação de um questionário online que auxiliou no diagnóstico da realidade vivida pelos profissionais essenciais, com destaque os da saúde, neste momento recente da pandemia.

O projeto da ISP somou-se a outras iniciativas realizadas pela Confederação junto aos seus Sindicatos e Federações voltados a ter uma radiografia das condições de trabalho nos primeiros momentos do combate à pandemia em nosso país. A pesquisa contou com a expressiva colaboração de 3.636 participantes e trouxe relevantes elementos que auxiliaram a ampliar o diagnóstico sobre as condições de trabalho nas redes de saúde. Todas estas iniciativas se transformaram em ferramentas para a ação permanente da Confederação em defesa dos trabalhadores de diversas categorias, do SUS – Sistema Único de Saúde e da qualidade do atendimento prestado à população.

Ao longo destes meses de pandemia, a Confederação e suas entidades vêm denunciando a precarização dos sistemas de saúde que colocam em risco os trabalhadores, suas famílias e o pacientes. Além do acompanhamento nos locais de trabalho, a utilização da Justiça e do Ministério Público do Trabalho fez com que muitas vitórias fossem conquistadas. As valorizações do SUS e de seus profissionais foram expressas na campanha “Eu sou o SUS”, criada pela Confederação.

O SERGS participou da discussão desta campanha e de sua divulgação para a categoria. Veja abaixo os principais resultados da pesquisa:

Perfil dos participantes – Do total de relatórios respondidos, 3.636, foi possível traçar um perfil dos participantes: 75% foram respondidos por mulheres (2.713); 84% foram profissionais da saúde (3.056); a faixa etária que mais contribuiu concentrou-se entre 30 a 49 anos, num total de 68% dos entrevistados (2.410); a grande maioria composta por servidores públicos (64% ou 2.327 trabalhadores), seguida por profissionais com carteira assinada (27% ou 982 trabalhadores). Quanto à região do país em que atua, a maioria dos participantes (55%) é do Sudeste, Nordeste 27%, Sul 9%, Centro-oeste 7% e Norte 2%. Sobre a jornada de trabalhado destes profissionais 36% (1.321) cumprem 36 horas, 30% (1.095) faz seis horas, 24% (871) trabalham 12 horas e 10% (349) mais de 12 horas diárias.

Perguntados sobre o meio de transporte usado para ir ao trabalho, 52,5% (1.909) vão de carro próprio, transporte público 20,8% (756), a pé 11,5% (419), taxi e aplicativo 3,6% (132) e outros meios 11,6% (420). Quanto ao local de trabalho, 36,8% (1.337) responderam como outros; 28,2% (1.025) estão na Atenção Básica, e 35% (1.274) em Alta Complexidade. Referente à área de atuação: 28,3% (1.028) são enfermeiros, 11,9% (434) técnicos de enfermagem, 10% (363) agentes de combate às endemias; 7,6% (278) assistentes sociais, 4,9% (177) agentes comunitários de saúde, as demais categorias tiveram índices menores.

Condições de Trabalho – Foi informado por 63% dos participantes que a quantidade de EPIs não é suficiente. Entre os agentes de combate às endemias este percentual atinge 87,2%; agentes comunitários de saúde 86,3%, terapeuta ocupacional 77,8%, auxiliar de enfermagem 72,1%, técnico de enfermagem 70,7%, assistente social 69,3%, médico 66,2%. As demais categorias tiveram índices menores, porém sempre acima de 42%. Quando abordam os EPIs fornecidos por locais de trabalho, temos: na Atenção Básica 67,2% acham insuficientes; na Alta Complexidade este índice é de 56,3% e nas demais funções o indicador é de 60,9%. Esta insuficiência também é avaliada por jornada de trabalho: seis horas 55,35% acham insuficiente; oito horas 56,6%, doze horas 59,3% e acima de 12 horas vai para 73,3%.

Falta de capacitação –Outro ponto detectado pelas respostas foi a falta de capacitação para que os profissionais pudessem exercer suas funções com segurança neste momento inteiramente novo de pandemia por Covid-19.  69.6% dos trabalhadores da saúde não tiveram capacitação adequada. Os profissionais essenciais, num total de 77%, também disseram que não tiveram. Sobre oferecimento de hospedagem como alternativa para não contaminação de familiares, 94% não tiveram esta oportunidade, 4% tiveram e 2% deixaram em branco a resposta.

Sofrimento psíquico – Outro quadro bastante grave tem a ver com o sofrimento psíquico destes profissionais. 54% dos participantes dizem ter sofrimento desta natureza. Comparado com as jornadas de trabalho fica claro que o aumento de horas amplia o sofrimento: até seis horas 50,32% disseram que sim, oito horas 54,17%, doze horas 57,89% e mais de doze horas 63,58%. Há ainda a influencia por local de trabalho. Responderam que sentem este sofrimento 59,2% dos que trabalham em Alta Complexidade, 53,85% na Atenção Básica e 52,4% os que exercem outras funções. Os principais sentimentos detectados na pergunta aberta sobre este tema foram: ansiedade, medo, estresse, pressão, pânico, cansaço, assédio, angústia, depressão, tristeza, insegurança, insônia. Detectou-se ainda uma forte relação de sofrimento causado por falta de EPIs.

Recorte de Gênero – Os questionários apontaram um número maior de participantes mulheres. Nos profissionais da Alta Complexidade, 83,19% foram mulheres, na Atenção Básica atingiu 79,74% e em outras atividades 71,43%.  Sobre EPIs, 67,2% das mulheres da área da Atenção Básica consideraram insuficientes, 56,35% da Alta Complexidade e 60,9% de trabalhadoras de outras áreas. Entre as mulheres percebeu-se que o sofrimento psíquico é maior, pois atingiu 57,1% dos participantes. Os principais sentimentos detectados na pergunta aberta sobre este tema foram: falta de EPI aparece com grande destaque, máscara, risco, contato com paciente, profissional da casa, Covid, Hospital, proteção, pandemia, treinamento.

 

Algumas conclusões:

De acordo com a síntese feita sobre os resultados foi possível detectar que: os trabalhadores estão desprotegidos pela falta de EPIs básicos, quadro ainda mais grave na área de Alta Complexidade; há um indicador grave que os profissionais com mais de 60 anos, considerados grupo de risco, estão ainda mais desprotegidos; e que os profissionais da Alta Complexidade que atuam com a maior carga horária, 12 horas diárias ou mais, estão mais desprotegidos. Constatou-se a falta de capacitação e treinamento. Em cada três trabalhadores, dois confirmam não ter recebido qualquer tipo de qualificação sobre protocolos, procedimentos, utilização de equipamentos e insumos, entre outros.

Com referência às mulheres, ficou detectado que representam mais de 80% da força de trabalho na Alta Complexidade. As questões abertas apresentadas no questionário “mostraram que muitas, por serem chefes de família e cuidadoras de familiares idosos, temem a contaminação, uma vez que as empresas/organizações não oferecem hospedagem. Todo esse contexto leva ao sofrimento psíquico de 54% das participantes.

O diagnóstico apontou ainda as seguintes medidas emergenciais: “regularização do fornecimento de EPIs, gestão da carga horária de trabalho e apoio psicológico. Ações estruturais para melhoria das condições de trabalho, entre elas, políticas de valorização e reconhecimento, de representação, de humanização e de gestão do trabalho”.

Fonte: CNTSS/CUT

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