Matheus Gomes: um novo espaço do negro na política para combater a desigualdade
Dando continuidade à série de entrevistas com os vereadores negros eleitos recentemente para a Câmara de Vereadores de Porto Alegre, o SERGS abre espaço para a fala de Matheus Gomes, historiador, servidor do IBGE e ativista social há mais de 10 anos.
Eleito com expressiva votação pelo PSol, Matheus acredita que a eleição de cinco jovens negros na capital é fruto de um momento político diferente no Brasil, em que o movimento negro tem conseguido pautar debates importantes da sociedade brasileira.
“É o reconhecimento do alto grau de organização e inventividade que a gente sempre teve no Movimento Negro, e que agora se consolida com um novo espaço do negro na política, na cultura e nos grandes debates da cidade de Porto Alegre”, afirma. Conheça as ideias de Matheus para a cidade e para a saúde.
SERGS – O que representa para um jovem negro, ativista dos direitos sociais, ocupar essa vaga na Câmara?
Matheus – É uma possibilidade da gente fazer com que o jovem negro deixe de ser a cara do crime, da desigualdade. Que o negro deixe de ser aquele sujeito que é sempre acometido pelas maiores injustiças da nossa sociedade e comece a ser visto como elemento de transformação. O elemento da esperança e da construção do futuro de justiça social e liberdade democrática da cidade de Porto Alegre.
SERGS – Na Semana do Dia da Consciência Negra, qual recado você considera importante passar para a sociedade?
Matheus – Porto Alegre é a cidade mais desigual do ponto de vista racial, dentre as capitais brasileiras. No dia da Consciência Negra, isso infelizmente apareceu da maneira mais brutal com o assassinato do Beto. Mas a nossa eleição dá uma mensagem no sentido contrário, de que negras e negros podem ocupar um outro lugar. A Câmara de Vereadores, a partir de 2021, vai ter um grupo comprometido em mudar essa realidade de desigualdade racial e social da nossa cidade. Com políticas públicas, com projetos que estejam voltados ao combate desta situação que foi ignorada pelo poder público ao longo de décadas aqui em Porto Alegre. E isso dá uma ponta de esperança para que a gente possa construir um futuro diferente.
SERGS – E falando sobre saúde, quais são seus projetos e bandeiras?
Matheus – Eu tive a honra de organizar a minha campanha com um grupo muito forte de ativistas em defesa do SUS e também do Sistema Único de Assistência Social. E nós hoje estamos muito preocupados com a política que vem sendo desenvolvida pela Prefeitura nos últimos anos, que ampliou as terceirizações das UBS, dos postos. Tiveram vários ataques aos trabalhadores, em especial no último período, com o fechamento dos postos de saúde e a tentativa de demissão dos trabalhadores do IMESF. Nós queremos defender e fortalecer o SUS aqui na cidade de Porto Alegre, os órgãos de gestão democrática, que estão previstos na legislação do SUS, e que também não estão sendo respeitados. A defesa de concurso público. O combate a essa política de passar cada vez mais para o controle das organizações sociais a estratégia de saúde da nossa cidade de Porto Alegre. E também fortalecer agora uma política coerente para superação desse quadro da pandemia que estamos vivendo aqui. E nos preocupa muito no segundo turno que a gente tenha uma aliança de vários setores negacionistas tentando disputar hoje a prefeitura na cidade de Porto Alegre. Isso pode nos comprometer estrategicamente. O futuro da nossa cidade está envolto na discussão sobre as saídas da pandemia, no tema da vacinação, que o Melo, por exemplo, acha que não deve ser obrigatório. Particularmente penso que deve ser. Então essas são as principais preocupações hoje com o tema da saúde.