20 de Novembro: Enfermagem na luta por equidade Racial

O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, nasceu em Porto Alegre, idealizado por Oliveira Silveira e pelo Grupo Palmares em 1971. A data foi escolhida para marcar a morte de Zumbi dos Palmares, símbolo máximo da resistência negra no Brasil. O objetivo sempre foi claro: resgatar a memória, afirmar a autonomia e denunciar que o 13 de maio não representou uma abolição completa, já que milhões de pessoas negras seguiram sem acesso à terra, educação, trabalho e direitos.

A partir do Movimento Negro Unificado, o 20 de novembro ganhou força nacional e, em 2011, virou lei. Hoje, é um marco político e pedagógico para lembrar que o racismo permanece atravessando o país, inclusive o sistema de saúde.

Apesar de o SUS defender universalidade, integralidade e equidade, a realidade mostra falhas profundas: segundo o IBGE, 56% da população brasileira é preta ou parda, mas esse grupo ainda encontra mais barreiras no acesso, no acolhimento, no diagnóstico e no tratamento adequado. A lei existe; o acesso, não. Por isso, igualdade não basta: equidade é o caminho. Dar o mesmo para todos não resolve desigualdades construídas historicamente.

Para a enfermagem, profissionais negros (pretos e pardos) e todos que entendem o compromisso ético com a justiça racial, novembro é um chamado. Reconhecer os determinantes que atravessam a população negra, seja como trabalhadora do SUS ou como paciente, já é uma postura concreta de enfrentamento ao racismo institucional. Racismo que se manifesta na fila, na análise de risco, na dor não acreditada, na promoção que não chega, na violência obstétrica, na desconfiança sobre a competência do profissional negro.

Novembro é uma oportunidade de nomear isso. Instituições sérias não fogem do tema, usam esse mês para discutir, formar, revisar processos e combater o racismo estrutural e institucional que atravessa o cuidado em saúde.

É também o momento de olhar para dentro: nosso imaginário foi formado por estereótipos. Quando pensamos em uma pessoa branca, reconhecemos que muita coisa do que aprendemos não é verdade. Mas quando pensamos em uma pessoa negra, muitas vezes continuamos presos a ideias construídas historicamente para hierarquizar, explorar e excluir. Sem base genética, somos todos da mesma espécie, mas com impactos reais, porque “raça” é uma construção social que define quem adoece mais, quem morre antes, quem é acolhido e quem é suspeito.

Para a enfermagem, isso significa uma responsabilidade dupla: cuidar e transformar. O 20 de novembro nos lembra que só existe saúde pública forte quando a população negra é tratada com dignidade, ciência, respeito e equidade. E isso exige compromisso diário de quem está na linha de frente.

 

Cláudia Carina C. dos Santos

Enfermeira e Diretora do SERGS

 

Referências

SILVEIRA, Oliveira. Negro em Verso e Prosa. Porto Alegre: Editora SMC, 2004.

GOMES, Nilma Lino. Educação, identidade negra e formação de professores. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.

MOURA, Clóvis. Rebeliões da Senzala. São Paulo: Expressão Popular, 2019.

SOUZA, Célia Maria Barbosa. Pesquisas sobre genoma, miscigenação e ancestralidade no Brasil.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Distribuição da população brasileira por cor/raça. Dados mais recentes (pretos e pardos representam aproximadamente 56% da população brasileira).

Lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011. Institui o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra.

Movimento Negro Unificado (MNU). Documentos e publicações históricas sobre a institucionalização do 20 de novembro.

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